terça-feira, 6 de junho de 2017

FALANDO COM VOCÊS

E, falando com vocês, falo com todos os meus queridos amigos, cantores, instrumentistas, maestros,gente do teatro,das artes plásticas, enfim, interminável gama de artistas que engrandeceram minhas colunas jornalísticas.

TEMPOS DE REPÓRTER           
Através da minha condição de repórter que me foi atribuída pelo saudoso amigo , advogado e jornalista Paulo Quintino dos Santos,ainda muito inexperiente, entrevistei gente importante.Eram matérias publicadas na extinta revista "Comércio & Indústria", de propriedade do próprio Paulo.Dos mais destacados trabalhos, não me esqueço da polêmica apresentação de Tônia Carrero em "Navalha na Carne", de Plínio Marcos.Incompreendido, o texto gerou situações constrangedoras,em que os intérpretes sofriam agressões(até físicas), por parte dos que se diziam defensores da moral, etc., etc. Eu, ao contrário, considerei "Navalha na Carne" uma espécie de advertência à prostituição.Qualquer jovem que a visse, jamais pensaria em adotar pernicioso caminho para ganhar a vida.Enfim,por determinação do chefe, procurei contacto com a notável atriz e ela me recebeu com a dignidade que lhe é peculiar,falando-me das dificuldades enfrentadas  na consagradora performance. Publicada uma crítica por mim assinada no "Estado de Minas", -ainda estudante de Direito- fui severamente repreendido pelo prof.Alberto Deodato,  que, definitivamente, considerava aquilo uma coisa de baixo teor.Mas...a vida é assim!

Paulo Autran, Juca de Oliveira, Othon Bastos, Maria Fernanda, Isolda Cresto, Eva Todor, o grande pintor Delpino,integram o meu trabalho inicial na revista que durou pouco e, infelizmente,não consigo encontrar os  exemplares que teria guardado...

Mas, o que me propiciou destaque, foi a cobertura que fiz de "Um Bonde Chamado Desejo"de Tenesse Williams,  protagonizado pela adorável Maria Fernanda e um elenco de primeira qualidade, com Othon Bastos e Isolda Cresto.Assisti a todas as récitas, apresentadas no Teatro Marília,emocionando-me sempre com o desempenho de todos eles!

Mais recentemente, dividi a música com o teatro.Sempre convidado por Pedro Paulo Cava, minhas críticas endereçadas aos eventos do  Teatro da Cidade,  ganharam fôlego.Graças aos empenhos do talentosíssimo Cava, ademais empreendedor de realçada qualificação profissional,as atrações oferecidas alcançaram altaneiro patamar.Impossível apontar a melhor.No entanto, para mim,"A Estrela Dalva" superou as mais otimistas das expectativas!           Voltado quase que exclusivamente para a música erudita,conversei com muita gente importante.Principalmente Nelson Freire que conhecia desde os tempos em que eu passava férias ginasiais em Boa Esperança,a   convite de amigos-colegas, cujo pai "seu" Zezinho Siqueira,era proprietário de uma magnífica fazenda cafeeira, na região.

Graças aos convites de Zezé e Ronei Filgueiras, reiteradamente frequentei seu lindo teatro,"Domus Aurea", no Retiro das Pedras.Tantas as oportunidades de assistir o melhor, que não poderia mencioná-las na sua totalidade.Dentre as mais significativas, sem dúvida, as apresentações do próprio Freire e de Frédéric Meinders,de rara genialidade pelas transcrições para o piano de obras sinfônicas  ou líricas.Notável!!!



A ÓPERA NA MINHA VIDA

Ainda adolescente, acompanhava Maria Helena Buzelin, saudosa irmã, por onde fosse ensaiar.Não entendia a ópera.Considerava algo esquisito, até mesmo meio ridículo.O tempo, entretanto, ensinou-me o contrário.Acabei admirando o gênero, quando assisti o "Galo de Ouro", de Stranvinski,no Municipal do Rio.Encantei-me com os cantores, soprano Diva Pieranti e o barítono Paulo Fortes.E não foram poucas as vezes que ia com o notável maestro e professor Luiz Aguiar, assistir às temporadas no magnífico teatro de Juiz de Fora, quando aqui só existia o "Francisco Nunes".Teatro de emergência, até que se concluísse o nosso portentoso Municipal que acabou se transformando no Palácio das Artes.

Ainda que improvisado, o "Chico Nunes", sem dúvida, representa rica memória da nossa cultura.Palco de célebres apresentações teatrais, recebia ícones das nossas ribaltas, tais como Bibi Ferreira,Eva Todor, Tônia Carrero, Paulo Autran, Adolfo Celli,Cacilda Becker,a dupla Dulcina & Odilon,Juca de Oliveira,Aracy Balabanian  além de outros, e os artistas locais, de prestígio nacional.Dentre eles, Jonas Bloch, Wilma Henriques,Jota D'Angelo,Elvécio Guimarães,Octávio Cardoso,Haydèe Bittencourt,dentre tantos de difícil relacionamento.

Em grande estilo, tínhamos a Sociedade Coral de Belo Horizonte, com a incumbência de fazer valer longas temporadas de ópera e balé que eram levadas no "Francisco Nunes",com êxito.De um dos seus fundadores o cantor e engenheiro Pery Rocha França, aos maestros Francisco Nunes, Asbrúbal Lima, assim como Sebastião Vianna e, mais tarde o insigne Sérgio Magnani, pilares desta corajosa edificação, o  desfile de muitos que contribuíram para o seu engrandecimento.Muito se  deve também ,ao notável tenor João Decimo Brescia, na condução daquela instituição.Cantores, ao mesmo tempo espécie de "empresários", apenas por ideal, procuravam valorizar os nossos talentos.Refiro-me a Wilson Simão e ao Murilo Badaró, possuidores de belíssimas vozes e  talento para o palco. E, assim, foram aparecendo intérpretes de fôlego, ao mesmo tempo em que se estabelecia intercâmbio com o Municipal Carioca. Sem dúvida, o tenor Assis Pacheco pode ser apontado como um dos pilares de tais empreendimentos, não só como cantor, mas, regisseur e cenógrafo. O balé, indispensável à ópera, conduzido por Carlos Leite  e Klauss Vianna, respondia pelo êxito de espetáculos que conferiram hegemonia nacional a Belo Horizonte, ao lado do Rio e de S.Paulo!

A orquestra, sob os cuidados da Sociedade Mineira de Concertos Sinfônicos, constituiu a continuidade dos Corpos Estáveis do nosso Theatro Municipal, demolido na década de l940.À frente de todas as idéias para que não houvesse solução de continuidade da apresentação da música erudita em geral, desponta-se a insuperável figura de Clóvis da Gama Salgado. Político de nobilíssimas referências, homem de ilibada conduta e amor à  cultura,soube exercer de maneira exemplar,a direção do Ministério da Educação e Cultura, assim como governou Minas Gerais com eficiência e probidade.

Coube ao meu digno pai, maestro Francisco Buzelin, responsável pela dita Sociedade de Concertos Sinfônicos, assim como ao não menos digno e admirável cantor  Hermann von Tiesenhausen, responderem pela preservação da orquestra e do coral, a partir da sua transferência para o novo teatro, o Palácio das Artes, inaugurado em l970.Graças ao proficiente governo de Israel Pinheiro foi possível a conclusão de gigantesca obra, readaptada pelo engenheiro Rocha França , credenciado auxiliar de JK pela construção de Brasília.



Eis que o Palácio das Artes, inserido na Fundação"Clóvis Salgado", responde pela magnitude de montagens líricas das mais portentosas.Vale aqui,- em se tratando de ópera- uma homenagem ao incomparável diretor,  cenógrafo e arquiteto, o grande Raul Belém Machado, cujo falecimento representa irreparável perda para o teatro operístico.



Responsável pelas temporadas líricas, a Sociedade Coral, além de revelar novos talentos, trouxe do exterior nomes como os de Benamino Gigli, Pia Tassinari, Ferruccio Tagliavini, Tito Schipa além da bailarina Margot Fountein que dividiam o palco do "Chico Nunes" com celebridades nacionais e os promissores intérpretes locais. Seis a oito óperas, eram levadas a efeito por ano, em duas ou mais récitas cada.Alguns dos nossos artistas alcançaram prestígio nacional e internacional,projetados que foram pela Sociedade Coral.
Além das óperas, as operetas compunham as temporadas. Loas à memória do insigne maestro João Cavalcanati,o mais aclamado  dos realizadores  de tais espetáculos.

CULTURA ARTÍSTICA
Paralelamente às atividades das Sociedades Coral e de Concertos Sinfônicos, a Cultura Artística de Minas Gerais respondia pela apresentação de excelentes concertos e recitais, congregando atrações internacionais e nacionais.Voltada para a música camerista, constitiu fator de enriquecimento  sócio cultural, hoje, infelizmente, de apagada memória.
De tais apresentações, participei com muito entusiasmo, em geral no portentoso auditório do Instituto de Educação, das mais portentosas edificações do país, totalmente vandalizada por pichações.Inconcebível que hajam pessoas que defendem seus autores,destruidores do patrimônio público e particular. Odiados criminosos, considerados dignos de atenção e tolerância por seus defensores, vestidos de falsa intelectualidade e total desconhecimento do que seja o estado de direito de uma democracia. Me poupem, pelo amor de Deus!!!





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