quinta-feira, 11 de maio de 2017

ÓPERA "NORMA" DE BELLINI - TEMPORADA MAIO 2017 - PALÁCIO DAS ARTES - FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO - BELO HORIZONTE, MG

"Norma ", tragédia lírica em dois atos e duas cenas,produzida    pela Fundação "Clóvis Salgado",em temporada bem sucedida.

Esclarecedoras as palavras de Pablo Maritano nesta versão,nem sempre agradável aos que buscam a ortodoxia dos espetáculos líricos, considerando cultural tradição da objetividade,peculiar ao gênero.Válido, porém, que o aludido diretor tenha buscado no genial Albert Einstein,fundamentos que justificam  a inovação: "...não sei com que armas a III Guerra Mundial será lutada.Mas, a IV Guerra Mundial será lutada com paus e pedras". Daí o imaginário adotado como pressuposto, perfeitamente adaptado .Adepto ao convencional, por entendê-lo idealizado por consagrados libretistas,em cujas obras não se deve mexer, é de se considerar pertinente a busca da atualização de um fato ocorrido em épocas remotas.Portanto, válida e digna de justa avaliação, pertinente aos tempos atuais e às previsões do que será o mundo dos próximos anos.

Música de Vicenzo Bellini((l80l-l835), natural da Catânia na Scicília-Itália.Libreto de Felice Romani, baseado no drama em versos , de Alexandre Soumet.

À frente da direção musical e regência, o maestro Silvio Viegas, num patamar altaneiro, confirma sua predestinação musical,conduzindo  a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sob todos os aspectos empolgante, eficiente e destacada dentre suas paritárias no Brasil.Os cenários tão pertinentes, decorrem de lúcidos profissionais, capazes de conferir ao espetáculo raro embelezamento.O mesmo se pode atribuir aos figurinos de Sayonara Lopes; à  iluminação de Fábio Retti e à caracterização por Lázaro Lambertucci.Cenários que impressionam,conferindo à ambientação surpreendente realismo.Decorrem do meritório trabalho de Jô Vasconcellos e Miriam Menezes.Cláudia Malta que responde pela produção, tece uma carreira palmilhada de êxitos,propiciando ao nosso principal teatro a reputação de um dos melhores do país.Onde se cultiva e se cultua a música, além de apresentá-la.Malu Gurgel, na assistência, confirmou prestigiado nome.

Lara Tanaka,admirável maestrina- há anos se dedica à formação de coralistas infanto-juvenis, assume a condução do Coral Lírico de Minas Gerais, destaque desta montagem .

Eiko Senda, na protagonização, convincente "Norma", numa inequívoca demonstração de equilíbrio teatral e magistral
domínio da voz. Soprano lírico-spinto, de extensa tessitura,belo timbre e o absoluto respeito à observação da partitura.Tanto quanto noutros papéis-notadamente "Butterfly"-pode ser apontada como uma das mais notáveis cantoras da atualidade.

Fernando Portari, nas vestes de Pollione,superou desafios, a partir da incômoda postura.Ou seja, quase o tempo todo ajoelhado, deitado, escapando da sanha de "Norma", armada com um facão, lembrando um samurai.Mostrou-se atleta,enquanto  evidenciava exímio tenor, jamais perdendo o andamento e os compassos, Enfim, todo o dinamismo canoro do difícil papel.Timbre doce, facilidade em relação às notas altas, médias e graves bem empostadas, enfim, um "Pollione" pensado por Bellini.Em que pesem tais méritos, talvez pelo próprio estilo do autor, usou excessivamente a "apoggiatura", ou apoiadura.Decorre de uma breve nota antes da principal, inferior ou superior num tom ou semitom.Trata-se de recurso para aumentar a expressão, o sentimento, muito usado nas óperas antigas, anteriores a Bellini.

Notável presença, decorreu do mezzo  Denise de Freitas,nas difíceis vestes de "Adalgisa".Emissão primorosa, em todos os segmentos e capilaridades acústicas, de uma voz possante audível e arrebatadora. Timbre raro à lá Maria Callas, jamais perdendo sutis pianíssimos, em que a doçura dos exigidos fraseados, fluíram sem quaisquer esforços. Nada mais extasiante que os duetos empreendidos por ela e "La Sendas", dignos de aplausos calorosos. Aliás, parece que o nosso público ignora que, em ópera, há licença para tais manifestações, ainda que interceptando a sequência. Porque, o gênero é capaz de levar o público a emoções incontidas, o que é natural e deve ser praticado.Faltou isso.Talvez por inibição ou mesmo constrangimento de uma platéia pouco afeiçoada...Em suma, Denise surge como jovem revelação do teatro lírico, dona de inquestionável escola e exemplar linha-de-canto. Ademais, bela mulher e atriz.

Os demais solistas Sávio Sperandio(Oroveso), Aline Lobão (Clotilde) e Lucas Ellera (Flávio)cumpriram sua atuação de modo absoluto e eficaz. Caracterizações muito boas,sem dúvida,contribuíram para o êxito de tais papéis( sobretudo de Oroveso). 

Ainda que "Norma" não seja das mais populares,constitui êxito de bilheteria, colocando o Palácio das Artes ao lado dos mais cogitados do Brasil.Vale dizer e afirmar a coragem de Malta, sob a presidência de Augusto Nunes-Filho, no exercício da difícil missão de engrandecer a nossa cultura, através da música, do teatro, das artes plásticas, do cinema e  da comunicação.

Loas ao desempenho de Rose (assim conhecida),incumbida de tarefas tais como a manutenção do espaço, através da bilheteria, portaria, mobilização no foyer e da organização logística do Grande Teatro.Sempre cordial, de admirável postura, no desempenho do seu trabalho tão importante ao bom andamento de qualquer apresentação que ali se proceda.        


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