"Norma ", tragédia lírica em dois atos e duas cenas,produzida
pela Fundação "Clóvis Salgado",em temporada bem
sucedida.
Esclarecedoras
as palavras de Pablo Maritano nesta versão,nem sempre agradável aos que buscam
a ortodoxia dos espetáculos líricos, considerando cultural tradição da
objetividade,peculiar ao gênero.Válido, porém, que o aludido diretor tenha
buscado no genial Albert Einstein,fundamentos que justificam a inovação:
"...não sei com que armas a III Guerra Mundial será lutada.Mas, a IV
Guerra Mundial será lutada com paus e pedras". Daí o imaginário adotado
como pressuposto, perfeitamente adaptado .Adepto ao convencional, por
entendê-lo idealizado por consagrados libretistas,em cujas obras não se deve
mexer, é de se considerar pertinente a busca da atualização de um fato ocorrido
em épocas remotas.Portanto, válida e digna de justa avaliação, pertinente aos
tempos atuais e às previsões do que será o mundo dos próximos anos.
Música
de Vicenzo Bellini((l80l-l835), natural da Catânia na Scicília-Itália.Libreto
de Felice Romani, baseado no drama em versos , de Alexandre Soumet.
À frente
da direção musical e regência, o maestro Silvio Viegas, num patamar altaneiro,
confirma sua predestinação musical,conduzindo a Orquestra Sinfônica de
Minas Gerais, sob todos os aspectos empolgante, eficiente e destacada dentre
suas paritárias no Brasil.Os cenários tão pertinentes, decorrem de lúcidos profissionais,
capazes de conferir ao espetáculo raro embelezamento.O mesmo se pode atribuir
aos figurinos de Sayonara Lopes; à iluminação de Fábio Retti e à
caracterização por Lázaro Lambertucci.Cenários que impressionam,conferindo à
ambientação surpreendente realismo.Decorrem do meritório trabalho de Jô
Vasconcellos e Miriam Menezes.Cláudia Malta que responde pela produção, tece
uma carreira palmilhada de êxitos,propiciando ao nosso principal teatro a
reputação de um dos melhores do país.Onde se cultiva e se cultua a música, além
de apresentá-la.Malu Gurgel, na assistência, confirmou prestigiado nome.
Lara Tanaka,admirável maestrina- há anos se dedica à formação de
coralistas infanto-juvenis, assume a condução do Coral Lírico de Minas Gerais,
destaque desta montagem .
Eiko Senda, na protagonização, convincente "Norma", numa inequívoca
demonstração de equilíbrio teatral e magistral
domínio da voz. Soprano lírico-spinto, de
extensa tessitura,belo timbre e o absoluto respeito à observação da
partitura.Tanto quanto noutros papéis-notadamente "Butterfly"-pode
ser apontada como uma das mais notáveis cantoras da atualidade.
Fernando Portari, nas vestes de Pollione,superou desafios, a partir da
incômoda postura.Ou seja, quase o tempo todo ajoelhado, deitado, escapando da
sanha de "Norma", armada com um facão, lembrando um
samurai.Mostrou-se atleta,enquanto evidenciava exímio tenor, jamais
perdendo o andamento e os compassos, Enfim, todo o dinamismo canoro do
difícil papel.Timbre doce, facilidade em relação às notas altas, médias e
graves bem empostadas, enfim, um "Pollione" pensado por Bellini.Em
que pesem tais méritos, talvez pelo próprio estilo do autor, usou
excessivamente a "apoggiatura", ou apoiadura.Decorre de uma breve
nota antes da principal, inferior ou superior num tom ou semitom.Trata-se de
recurso para aumentar a expressão, o sentimento, muito usado nas óperas
antigas, anteriores a Bellini.
Notável presença, decorreu do mezzo Denise de Freitas,nas
difíceis vestes de "Adalgisa".Emissão primorosa, em todos os
segmentos e capilaridades acústicas, de uma voz possante audível e
arrebatadora. Timbre raro à lá Maria Callas, jamais perdendo sutis pianíssimos,
em que a doçura dos exigidos fraseados, fluíram sem quaisquer esforços. Nada
mais extasiante que os duetos empreendidos por ela e "La Sendas",
dignos de aplausos calorosos. Aliás, parece que o nosso público ignora que, em
ópera, há licença para tais manifestações, ainda que interceptando a sequência.
Porque, o gênero é capaz de levar o público a emoções incontidas, o que é
natural e deve ser praticado.Faltou isso.Talvez por inibição ou mesmo
constrangimento de uma platéia pouco afeiçoada...Em suma, Denise surge como
jovem revelação do teatro lírico, dona de inquestionável escola e exemplar
linha-de-canto. Ademais, bela mulher e atriz.
Os demais solistas Sávio Sperandio(Oroveso), Aline Lobão (Clotilde) e
Lucas Ellera (Flávio)cumpriram sua atuação de modo absoluto e eficaz.
Caracterizações muito boas,sem dúvida,contribuíram para o êxito de tais papéis(
sobretudo de Oroveso).
Ainda que "Norma" não seja das mais populares,constitui
êxito de bilheteria, colocando o Palácio das Artes ao lado dos mais cogitados do Brasil.Vale dizer e afirmar a
coragem de Malta, sob a presidência de Augusto Nunes-Filho, no exercício da
difícil missão de engrandecer a nossa cultura, através da música, do teatro,
das artes plásticas, do cinema e da comunicação.
Loas ao desempenho de Rose (assim conhecida),incumbida de tarefas
tais como a manutenção do espaço, através da bilheteria, portaria, mobilização
no foyer e da organização logística do Grande Teatro.Sempre cordial, de
admirável postura, no desempenho do seu trabalho tão importante ao bom
andamento de qualquer apresentação que ali se proceda.
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