segunda-feira, 26 de junho de 2017

THEATRO MUNICIPAL DO RIO:VÍTIMA DE INUSITADO DESCALABRO

PROVA TAL A CONFIRMAR O QUANTO A ALTA CULTURA NESTE PAÍS ESTÁ SOLAPADA - COMO SEMPRE, OLAVO TEM RAZÃO!

O mínimo que se pode dizer é que o país convive com inusitado descalabro cultural.É o que se depreende do noticiário da imprensa escrita, televisiva ou radiofônica.Notadamente a cidade do  Rio de Janeiro, nossa portentosa sala de visitas;que encanta o mundo não só pela beleza natural, como pelas incomparáveis manifestações artísticas, lideradas pelo Carnaval,é a grande vítima da corrupção. Na mesma sintonia, o seu Theatro Municipal, cuja história desponta riquíssima, desde a sua fundação nos primórdios do século 20, encontra-se assolado,  praticamente destruído!Edificação predominante na Cinelândia, lembra o L'Opera, de Paris.Não só pela arquitetura de requintado gosto, como por sua tradição, de incomparável valor artístico e cultural, demonstrada por uma programação diária. Óperas, balés, concertos, recitais, teatro,enfim, toda gama que emoldura a grandeza de um povo,a nobre Casa exibe com o justo orgulho de um das mais destacadas do mundo.
Convivi de perto com satisfatório clima que existia naquele "templo da música", tendo conhecido um dos seus mais aclamados diretores. Murilo Miranda, assim como Adolpho Block, Matheus Torloni, José Mauro de Vasconcellos, dentre outros tão ilustres que deixaram indeléveis marcas de gestões exemplares. Na direção artística- o grande suporte de um teatro- a maestrina Cláudia Morena desponta defensora de prodigioso exercício, sobretudo dos intérpretes. Historicamente, Gabriella Besanzoni Lage, terá sido, sem nenhuma dúvida,a mais valorosa das diretoras.Haja visto que Paulo Fortes foi uma das revelações incentivadas por ela.Ademais, considerada a nossa maior "Carmen" de todos os tempos,título ostentado no Theatro Municipal. Cantores e cantoras, também preparados por ela, na condição de co-repetidora das grandes montagens líricas. Co-repetidor é a pessoa  incumbida de passar todo repertório,avaliando as possibilidades de um cantor ou uma cantora, ao mesmo tempo corrigindo deficiências e apontado acertos.Em suma, responsável pelo aprimoramento interpretativo dos que executam papéis complexos, nos diversos espetáculos de uma temporada.Função que Cláudia Morena exerceu por longo tempo,com absoluta capacidade.
A ópera é considerada a mais abrangente das encenações teatrais.Envolve maestros, regisseurs, bailarinos, cenografistas, estilistas(guarda-roupa), iluminadores, coreógrafos, além dos cantores.Entre nós, ao contrário de muitos países, compete ao estado definir dotações orçamentárias para acobertar as decorrentes despesas.Consequentemente, o governo acaba assumindo o poder de nomear elementos para a sua direção,nem sempre coerentes com os objetivos da instituição, gerando prejuízos à consecução dos seus objetivos.
O Municipal é, por excelência, um teatro lírico. Ou seja, destinado à ópera e congêneres.Para tanto, não pode prescindir dos chamados "Corpos Estáveis" que são a orquestra, o balé e o coro. Sem os quais, não é possível levar adiante a montagem de um espetáculo de tal envergadura. Bom lembrar que toda essa gama de intérpretes dedica tempo integral ao seu trabalho. No mínimo, oito horas de jornada diária, incluindo às vezes,  os sábados, domingos e feriados no calendário de "dias úteis".E os ensaios costumam ocorrer noite e madrugada  adentro!!!
 Nada menos que tamanho esforço e persistente abnegação,definem o caráter profissional dos que prestam a sua contribuição(  ou até mesmo a própria vida), em prol da edificação da nossa grandeza musical. Impossível seria relacionar tantas celebridades, nas quais se incluem  integrantes internacionais, como Enrico Caruso ou Claudia Muzzio que adoraram  o Brasil!
Ao que se sabe, o nosso principal teatro começou a sofrer prejuízos à época em que esteve fechado para reformas,pela década de l980.Ao ser re-inaugurado,houve por bem a sua administração convidar elementos do Colón de Buenos Aires, para promover temporadas.  As queixas foram inúmeras,na medida em que os nossos artistas passavam a ser "analisados" por uma equipe alienígena, às vezes prepotente e intolerante.Excetua-se o maestro Cellaro, reconhecedor do mérito de consagrados solistas pátrios.Estes mesmos solistas-dentre os quais o próprio Fortes- que acabaram pelo país afora, de norte a sul e do leste ao oeste, apresentando-se, como eles próprios diziam  "de maneira mambembe".Tiveram o beneplácito do então ministro Ney Braga,homem de evidente sensibilidade e senso de justiça.
Para  sumarizar,o Municipal foi perdendo a dignidade conquistada ao longo de décadas, ao ponto de o seu museu, retornando à condição de um restaurante (Assírios) , haver "perdido" precioso acervo,incluindo as placas comemorativas que foram "arrancadas" das paredes do foyer e do hall. Só Deus sabe aonde foram parar!!!Alguns dizem que se encontram "preservadas" num galpão no bairro de Jacarepaguá e, até mesmo no Cemitério do Caju, alguns bustos de sopranos, confundidas com a Virgem Maria,embelezando os túmulos,foram encontrados...
Superada a fase portenha, ainda que elogiosa sob o ponto de vista  artístico, a reação da classe interessada obteve alguns trunfos, registrando-se momentos de elevada conceituação em torno da reputação do Municipal.
Pouco a pouco, a partir do governo Collor, o descaso pela música erudita acentuou-se,inclusive pela extinção de órgãos e entidades de relevante expressão.A pior fase, sem dúvida,aí está, na mais evidente consequência de uma política desinteressada em apoiar projetos culturais, entendidos como elitistas.O que não passa de demagogia, estribada num desatinado populismo,responsável pela  indigência que se verifica dentre os mais desfavorecidos.
O DESCALABRO
A imprensa divulga sob título garrafal, o estado de miséria do Municipal carioca:"...salários de bailarinos e músicos atrasam e obrigam profissionais a viver de bicos..."E o exímio primeiro bailarino Felipe Moreira,de memoráveis performances, divide o palco com um táxi que dirige, para manter suas contas em dia".A desolação invadiu as dependências do teatro, deixando-o à mercê da sua própria sorte, sem recursos, sequer, para despesas de custeio, é o que parece.É o caos que causa indignação social, quando se ouve dizer de tanta ladroeira; de recentes  governadores do Rio que extorquiram o erário, sem o mínimo de respeito aos interesses públicos.Autênticos ladrões,  desonestos nas suas atitudes, à frente de poderosos cargos. Eleitos pelo povo, através da falsidade ideológica(mentiras) que souberam enredar com finalidades ilícitas.  E pensar que, por muito menos, Maria Antonieta e Luiz XVI acabaram na guilhotina,graças à Revolução Francesa...Que no Brasil, haja justiça e restauração do estado de direito democrático, atualmente confundido com programada desordem para a adoção de uma ditadura, talvez mais grave que a venezuelana.
O IDEAL CONTINUA
E continua valendo-se da predestinação de talentosos e idealistas artistas, ovacionados semana passada, quando as portas do Municipal se abriram (à duras penas) para a apresentação  da empolgante "Carmina Burana" de Carl Orff, de supremacia coralista,  consistente massa sinfônica e magistral regência.Heróica a apresentação da bailarina Viviane Barreto que, a despeito do oitavo mês de gravidez em que se encontra,esteve exuberante no cumprimento de uma coreografia de extrema dificuldade. Bravíssima!!!

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